No final do ano de 2017 chegamos a consolidação do crescimento do mercado cervejeiro no Brasil. Até chegarmos aqui não foi fácil, e ainda não é. Desde a primeira cervejaria do Brasil, lá no ano de 1640 até os dias de hoje, passamos por muita coisa. Por sermos um país tipicamente tropical nos transformamos em um dos países que mais consomem cervejas no mundo. Na onda do século 20, que assolou o mundo, as cervejas clarinhas, sem muita consistência tomaram conta dos paladares do país tropical. Junto com a massificação dos fast-food, vieram as cervejas de baixíssima complexidade a base de milho e arroz, com seus apelos de propagandas sensuais e calientes. Aliados fast – food e cervejas ralas tomaram conta do paladar brasileiro.
Mas então algo aconteceu. As comidas de fast-food, embora ainda fortes, foram perdendo pouco a pouco força perante sabores mais elaborados a mesa, e a cerveja começou a caminhar para o mesmo lado. Começaram a surgir cervejas mais “encorpadas”. As Weiss, cervejas tipicamente de trigo, surgiram nessa onda. Beber uma Weiss era um acontecimento. Daí começaram as cervejas de inverno (assim diziam as propagandas), cervejas como a bock apareceram com seu tom mais escuro, adocicada e levemente lupulada.
Os gigantes das cervejas que dominavam 100% do mercado não viam, mas bem debaixo dos seus narizes estava começando a nascer um movimento muito maior que eles podiam imaginar. Na onda da revolução cervejeira americana, alguns pioneiros brasileiros descobriram como fazer cerveja em casa. Inspirados nos Homebrewers americanos, começaram a produzir estilos que antes eram tidos como lendas. E então uma enxurrada de sabores e aromas tomaram conta das casas dos cervejeiros artesanais. Panelas a todo vapor somaram-se a uma revolução no paladar que o mundo já estava experimentando e que nos EUA, já estava consolidado.
Nessa onda, começaram a surgir micro cervejarias em todos os recantos deste país. Os anos 90 e virada do século XX são os anos de ouro das cervejarias artesanais no Brasil. Surge a Borck em 1996 em Timbó, O Fritz, em Sumaré, a Dado Bier (Porto Alegre) e a Cervejaria Colorado surgem em 1993. Em 1995, 97, 98, 99 e 2000 surgem respectivamente a Krug Bier de Belo Horizonte, Ceva Pura de Piracicaba, a Baden Baden de campos do Jordão, a Amazon Beer de Belém do Pará, e em 2002 nasce em Blumenau a Eisenbahn que foi uma das que protagonizaram essa revolução. Por meio dela o Brasil ficou sabendo o que era uma Strong Golden Ale, uma Weizenbock, Dunkel, Kolsch entre outras. A cerveja artesanal começa a criar seu próprio mercado e dar umas “beliscadas” no gigante.
Nos anos que vieram, o número de cervejeiros caseiros a buscar degraus mais altos no meio começou a crescer vertiginosamente, criando suas próprias cervejarias. Se nos meados do início do século XXI tínhamos menos de 70 cervejarias abertas, no ano de 2017 superamos as 700, isso sem contar as “ciganas”, “que são empresas legalmente constituídas, mas que não possuem uma estrutura produtiva própria, que realizam as suas produções em cervejarias terceirizadas devidamente registradas no MAPA, cabendo à estas o registro destes produtos.” Com essa perspectiva de crescimento, o Brasil pode chegar a 1000 (mil) fábricas de cervejas no final de 2018. É um crescimento espetacular, mesmo em um período de retração econômica o mercado das cervejas artesanais cresceu em 2016 39,40% e só no primeiro trimestre de 2017, 17%, e a projeção para 2018 é um crescimento entre 20 a 25%. Em três anos, as cervejarias saltaram de 356 para 679, um crescimento de 91%.
Aliados a isso, as Acervas, associações de cervejeiros artesanais, vem se organizando em diversas regiões do Brasil, divulgando a cultura cervejeira e levando diversos benefícios para seus associados. Também temos os inúmeros eventos crescentes em todas as partes do Brasil. Eventos cervejeiros que tem reunido boa cerveja com comidas excelentes para harmonizar. Nesse processo, com a “gourmetização”, o consumidor passou a exigir rótulos com melhores ingredientes, deixando-se permitir a experimentar novos sabores e aromas.
É ainda o começo, mas já foi dado um bom passo até aqui. O que virá a seguir? Pouco podemos saber, mas o certo é que a cerveja artesanal veio para ficar, não é moda, é mudança de postura cultural.
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